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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Resenha: Brasyl - de Ian McDonald - Editora Saída de emergência

BRASYL
Ian McDonald
Editora Saída de Emergência

Sinopse: Três personagens. Três histórias. Três brasis. Ligados através do tempo, do espaço e da realidade.
Marcelina é uma produtora de TV que sai pelas ruas do Rio em busca do sucesso que lhe trará a fama. Quando uma ideia para um programa a faz rastrear o mais infame goleiro do futebol brasileiro, ela se envolve em uma antiga conspiração que ameaça não só a sua vida, mas também a sua alma.

Edson é um empresário de celebridades tentando sair das favelas de São Paulo em um futuro não muito distante. Um encontro inesperado o faz cair no mundo perigoso da computação quântica. Agora, sem ter para onde fugir em um Brasil em que cada rosto e centavo são rastreados, ele precisa salvar a própria pele.


Padre Luis Quinn é um missionário jesuíta que vasculha as profundezas da Floresta Amazônica do século XVIII em busca de um padre renegado que tenta estabelecer um império. Mas o que ele encontra ali põe em xeque a sua fé e a própria realidade.


Resenha

Brasyl conta a estória de 3 personagens. Cada um em uma cidade brasileira. 

Rio de Janeiro, 2006. Marcelina é uma produtora de TV, para ser mais específica, ela produz reality shows e outros programas de qualidade duvidosa. Mas isso não é problema para ela, pois ela ama o seu trabalho e os seus programas. Ela trabalha no quase infame Canal Quatro, que no livro não é a Globo. Ela é uma garota da zona sul, que ama uma festa, não está nem aí para a família, tem encontros casuais, curte algumas drogas (e não estou falando dos programas que ela cria) e cujo hobby é a capoeira. Ela não é uma pessoa que se pode considerar profunda e tão pouco muito inteligente. Mas ninguém pode duvidar que ela é esperta. E no meio da loucura de criar um novo programa para competir com a Globo, eis que ela resolver fazer um programa envolvendo o goleiro mais odiado da história do Brasil. Sim, estou falando do Barbosa. O que ela não poderia imaginar é que essa ideia poderia custar muito mais do que ela estava disposta à apostar. Ela acaba se envolvendo em uma conspiração muito além do mundo futebolístico, muito além de qualquer mundo que ela poderia imaginar.
O homem que ri sempre pode vencer o homem com raiva porque o homem com raiva é burro, age com raiva, e não com malícia.
São Paulo, 2032. Edson é um jovem empresário em busca do sucesso. Seu sonho é deixar para trás a favela onde nasceu e conquistar o seu lugar ao sol. Isso é ainda mais complicado no Brasyl do futuro, onde todos os seus movimentos, toda a sua vida, é monitorada 24 horas por dia pelos Anjos da Perpétua Vigilância, no Brasy de Edson a tecnologia está muito mais avançada A vida de Edson é bem agitada e nem sempre os seus negócios são exatamente lícitos. Edson possui mais de uma persona, e sempre cria uma nova quando vê necessidade. Apesar de todos possuírem I-Shades que monitoram todos os seus passos, sempre é possível arranjar um jeitinho de enganar a monitoração. E o mesmo pode ser dito sobre os crimes que você comete. E é justamente isso que transforma a vida de Edson. Após o seu irmão roubar uma bolsa de marca com um sistema de rastreamento baseado em física quântica, ele acaba tendo de entrar em contato com os Quantumeiros, um novo nível de hackers, nível quântico para ser mais exata. E eis que ele se interessa por Fia, uma descendente de japoneses, com rosto de anime e cérebro de gênio. Ele não sabe em que essa física está metida, mas ele vai acabar sendo arrastado para o meio da confusão de qualquer forma. E a partir de então ele vai precisar quebrar todos os seus conceitos do que é real e possível.
Lâminas-Q. Ninguém sabe de onde elas vêm: exército, militares, CIA, mas desde que começaram a aparecer nos bailes funk como a arma de preferência, todo mundo sabe o que elas fazem. Cortam qualquer coisa. A lâmina é tão afiada que corta em nível atômico. Ela vai até o nível quântico. Quebre uma - a única coisa que pode quebrar uma lâmina-Q é outra lâmina-Q - e a lasca cairá através da rocha sólida até o centro da Terra.
Salvador / Amazônia, 1732. O padre Luis Quinn é um missionário jesuíta que sempre requisitou a missão mais difícil possível para si próprio. E eis que um dia ele consegue essa missão. Ele é enviado para o Brasil, como admonitor, para investigar as atividades suspeitas de outro padre da ordem. E antes mesmo de botar os pés por aqui, Luis já começa a perceber que o Brasil é diferente de qualquer outro lugar no mundo. Quando ele finalmente chega, Salvador está enfrentando uma praga que está acabando com  os animais, uma doença que se assemelha muito à raiva. Mas isso nem é o mais importante. Pois ele foi enviado lá para investigar e punir, mas logo fica claro que nem todo mundo parece satisfeito com sua presença por ali. Ele então parte em direção ao coração da selva amazônica, junto a um francês que todos suspeitam que seja um espião. Sua missão é bem clara, porém com o seu passado é nebuloso. Quinn é um ótimo espadachim e ninguém sabe o porquê dele ter se entrado no sacerdócio, apenas que ele segue a ordem marcial dos jesuítas. E é no meio da selva que a fé de Quinn será posta à prova. Ele precisará de toda a sua força, coragem e fé para enfrentar um inimigo como ele nunca viu. Sem dúvidas ele conseguiu a missão mais difícil que alguém poderia ter.
- Pois, padre, o Brasil não é igual a outros lugares. O senhor vai descobrir que pouca coisa acontece aqui sem estímulo.
Apesar de serem 3 estórias paralelas, todas as três são uma mesma estória. E essas estórias estão interligadas através do tempo e dos universos. Brasyl é um livro de ficção científica riquíssimo, que nos mostra como cada pequeno detalhe, cada escolha, cada opção, etc, pode gerar um novo universo, igual e completamente diferente do anterior. Existem milhões, bilhões, infinitas versões do Brasyl. Cada personagem se encontra em uma dela, em um tempo diferente da história. Só que eles não estão isolados, é possível um universo afetar o outro, uma pessoa passar de um para o outro. E nem todos estão na completa ignorância em relação a essa verdade. E é aí que reside o perigo.

Admito que a primeira coisa que me chamou a atenção nesse livro quando o vi entre a lista de lançamentos da nossa parceira Saída de Emergência, além do nome, foi a capa. Uma visão de um Rio de Janeiro futurístico sem dúvidas atiça a curiosidade de qualquer um. O interessante é que a contra-capa exibe justamente o oposto, um Rio de Janeiro do passado. Quando primeiro vi o nome do livro, eu não fazia ideia que na verdade era um livro de ficção científica, mas quando terminei de ler a sinopse, eu já sabia que eu necessitava ler esse livro.
O Brasil respeita o poder e pouca coisa além disso.
O autor de Brasyl não é brasileiro, e sim britânico. E uma das coisas que mais me surpreenderam nesse livro foram as informações corretas a cerca do país, em relação a política, canais de televisão, programas de TV, cultura, até mesmo a simples localização das ruas. Já li diversos livros que se passavam no Brasil, escrito por autores estrangeiros, e até o momento esse é o único que não tem nada extremamente absurdo (e olha que é ficção científica). Geralmente eu fico com vontade de mandar um email para autor e perguntar se ele ao menos pesquisou no Google, mas nesse livro isso não acontece. O país é tão corretamente detalhado, o bom e o ruim, que realmente parece que o autor é brasileiro. 

Isso somado ao fato que o livro é uma grande obra de ficção científica, fez com que eu amasse o livro. É extremamente interessante enxergar o Brasyl do futuro, e diversas outras versões do nosso país. Tudo que poderia ser ou ter sido. Sem dúvidas, sendo brasileira, esse livro teve um gostinho muito mais especial.
Nada é mais Canal Quatro do que o poste da chibata, o pelourinho, o ferro em brasa. É o que mais gostamos, o sofrimento dos outros, o freak show.  O tormento e a loucura, dissecações públicas e a exposição às coisas nojentas, garotas tirando a roupa. Somos uma espécie libidinosa, bestial. Elas já sabiam disso no século 18; eles conheciam a alegria da desgraça pública. Se ainda houvesse execuções públicas, o Canal Quatro as transmitiria no horário nobre e seria campeão de audiência.
Embora a narrativa seja rica em detalhes e envolvente, por vezes ela se tornou lenta. Algumas vezes eu queria que o livro fosse mais objetivo, que chegasse logo no ponto. E somente por isso eu dei 4 estrelas para ele. Mas sem dúvida eu recomendo esse livro, pois dificilmente você encontrará um livro igual ou um livro que você se sinta tão envolvido com a história. Isso sem falar que de alguma forma mágica o autor conseguiu misturar física quântica, mundo de celebridades, história da escravidão no Brasil, política, e tantas outras coisas, que o livro não deveria fazer o menor sentido, mas faz. 

Recomendo esse livro para todos os fãs de ficção científica e para todos os brasileiros que queiram ver o Brasil no centro de uma conspiração que cruza o tempo e diversos mundos.
Ganância, vaidade, voracidade, brutalidade e desprezo pela vida são vícios de todas as grandes nações do mundo. No Brasil elas são virtudes corretas e praticadas com zelo.
Sobre o autor


Ian McDonald nasceu em 1960 na Inglaterra, filho de mãe irlandesa e pai escocês. Sua família se mudou para a Irlanda quando ele tinha 5 anos. Morou no jardim da casa onde C.S. Lewis passou a infância, e depois foi para o centro de Belfast, onde mora até hoje, com seus gatos e sua coleção de histórias em quadrinhos. Sua carreira começou na década de 1980 e já foi premiado com o BSFA e o Philip K. Dick Award, além de ter sido várias vezes finalista do Hugo e do Nebula.










11 comentários:

  1. Tenho que admitir que li as sinopses de cada história me arrastando. Achei super chato e pulei para a parte em que você fala o que achou do livro... Depois de ter terminado essa resenha eu só posso dizer que fico feliz por não ter parado de ler. Incrível mesmo como um escritor que não é brasileiro consegue fazer um livro sobre o brasil da forma como você descreveu (ainda quero confirmar isso, lendo o livro).

    literarizei.blogspot.com.br

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  2. cara Patricia, este lívro tb está entre meus desejados (você tem uma sorte danada com livros, viiiirgi). capa e título me capturaram na mesma proporção. num primeiro momento me pareceu com "brazil - o filme" de terry gilliam. algumas pessoas que leram no original reclamaram das grafias incorretas contidas no livro, então fiquei com um pé atrás, afinal de contas um britânico pode até saber bem sobre nossa terrinha, mas as minúcias deste país cheio de contrastes estaria melhor definido por alguém daqui mesmo. por outro lado, a melhor biografia que li sobre santos dumont é de um americano, paul hoffman. mas deixemos todas essas conjecturas de lado.
    é um livro que comecei a gostar e foi tomando conta de minhas prioridades. sua resenha e principalmente a frase que deixou finalizando invadiu meus olhos e minha vontade de ler o mais rapidamente possível. parabéns menina!

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    1. Engraçado você comentar sobre o original, porque eu fiquei louca de curiosidade de ler. O problema da grafia não ocorre nesse livro, pois durante a tradução esses erros foram retirados.
      Bjs.

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  3. Esse livro me chamou muito a atenção quando foi lançado. Essas perspectivas de um país em três épocas diferentes deve super interessante no livro. Sua resenha só reforçou a vontade de eu ter esse livro na minha lista de leitura!

    Zona de Conspiração | Facebook da Zona | Canal do Zona

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  4. Esse não tinha me chamado a menor atenção pela capa e título, mas vendo sua resenha preciso desse livro urgente, acho que vou amar. Bjs

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  5. Oi Patrícia, quando vi o lançamento deste livro achei super interessante não só pelo gênero tele, mas por ter justamente o Brasil como pano de fundo.
    Bjs, Rose.

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    1. Sim, sempre é interessante ler como o mundo enxerga o Brasil.
      Bjs.

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  6. Achei num sebo, comprei numa pilha de 3 por 10,sem grandes expectativas. Estou começando,mas agradavelmente surpreso. Difícil crer que o autor nunca viveu aqui.

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Bjão
Equipe Cia do Leitor