Resenha: Coração de Tinta - de Cornelia Funke

Coração de Tinta

Trilogia Mundo de Tinta - Livro 1

Cornelia Funke

Editora Seguinte

Skoob

Sinopse: Há muito tempo Mo decidiu nunca mais ler um livro em voz alta. Sua filha Meggie é uma devoradora de histórias, mas apesar da insistência não consegue fazer com que o pai leia para ela na cama. Meggie jamais entendeu o motivo dessa recusa, até que um excêntrico visitante noturno finalmente vem revelar o segredo que explica a proibição.

É que Mo tem uma habilidade estranha e incontrolável: quando lê um texto em voz alta, as palavras tomam vida em sua boca, e coisas e seres da história surgem como que por mágica. Numa noite fatídica, quando Meggie ainda era um bebê, a língua encantada de Mo trouxe à vida alguns personagens de um livro chamado "Coração De Tinta". Um deles é Capricórnio, vilão cruel e sem misericórdia, que não fez questão de voltar para dentro da história de onde tinha vindo e preferiu instalar-se numa aldeia abandonada. Desse lugar funesto, comanda uma gangue de brutamontes que espalham o terror pela região, praticando roubos e assassinatos. Capricórnio quer usar os poderes de Mo para trazer de "Coração De Tinta" um ser ainda mais terrível e sanguinário que ele próprio. Quando seus capangas finalmente seqüestram Mo, Meggie terá de enfrentar essas criaturas bizarras e sofridas, vindas de um mundo completamente diferente do seu.

Resenha

Maggie sempre foi apaixonada por livros, paixão que ela herdou do seu pai, Mo. Mo é um médico de livros, por assim dizer. Seu trabalho é recuperar livros danificados, em sua maioria, livros bem antigos. A família de Maggie é seu pai, os livros e um punhado de tios que as vezes visita. Ela não se lembra da sua mãe, e é como se ela nunca tivesse a conhecido. Ela nem ao menos sabe ao certo o que aconteceu com ela.

Eles eram o seu lar quando ela estava num lugar estranho - vozes familiares, amigos que nunca brigavam com ela, amigos inteligentes e poderosos, audazes e experientes, viajados, aventureiros calejados.

Maggie e Mo vivem em um casa no campo, longe de pessoas, mas cercados de livros por literalmente todos os lados. E isso é perfeito para ela, que não poderia imaginar uma vida melhor. Porém a vida de Maggie, e o seu mundo em geral, está para mudar completamente, tudo por causa de um estranho que aparece do nada em uma noite.

Seu nome é Dedo Empoeirado e ele está lá para avisar a Mo que Capricórnio sabe onde ele está. Você não entendeu nada, né? Pois é, nem a Maggie. Aparentemente Mo está escondendo algum segredo dela, justamente dela, coisa que ela jamais iria imaginar. Maggie acreditava que Mo sempre lhe contara tudo, que não existia segredo entre eles.

Você mesmo sempre diz que os livros têm de ser pesados, porque o mundo inteiro está dentro deles.

E logo após essa suposta ameaça, Mo decide do nada que é uma ótima hora para visitar a tia de sua esposa para consertar os livros dela. E porque não, ele decide sair sorrateiramente, sem que Dedo Empoeirado saiba. Mas ei, é tudo coincidência, ele não está tentando despistar ninguém… ao menos é isso que ele quer que Maggie acredite. E é claro que ela não cai nessa. Mais do que nunca ela sabe que Mo está escondendo alguma coisa dela, alguma coisa muito séria, e que isso pode ter ligação com o livro que ela viu ele esconder disfarçadamente antes de sair de casa, um livro que ela nunca tinha visto antes, um livro chamado Coração de Tinta.

Por que os adultos achavam que as crianças suportavam melhor os segredos do que a verdade? Será que não faziam ideia das histórias tenebrosas que elas inventavam para explicar os mistérios?

Ao chegar na casa de Elinor (também conhecido como paraíso), Maggie se depara com uma infinidade de livros, alguns até mesmo raros. Elinor por sua vez, não tem muita paciência com crianças, ou com pessoas em geral. Sua vida sempre foi dedicada aos seus livros, e ela não consegue pensar em algo pior do que uma criança o danificando. Mas ela realmente precisa que Mo repare alguns dos seus livros e acaba aceitando a presença de Maggie. Mas como sabemos, Maggie também é uma apaixonada por livros, então Elinor realmente não teria porque se preocupar.

- Sim, Elinor é muito rica - disse Mo, puxando Maggie de volta. - Mas a qualquer hora dessas vai acabar sem um tostão furado, pois gasta todo o dinheiro que tem com os livros. Receio que ela não hesitaria em vender a alma ao diabo, se ele oferecesse o livro certo em troca.

Mas como fugir dos problemas nunca leva a lugar nenhum, principalmente nos livros, a vida de Maggie e Mo não fica mais fácil simplesmente porque estão na casa da Elinor. Até porque Mo tem um dom extremamente raro, e ao mesmo com um potencial bem perigoso. Eu realmente não quero contar que dom é esse, embora esteja na sinopse do livro (eu nunca entendi porque eles entregam o segredo de bandeja), mas eu realmente não gostaria de ter o dom dele. E esse dom está sendo visado pelo vilão Capricórnio, um sujeito nem um pouco simpático que conta com inúmeros lacaios, que também não são nem um pouco simpáticos. E Capricórnio será capaz de qualquer coisa para conseguir colocar sua mãos no Mo, o que acaba colocando Maggie, e agora também a Elinor, na linha de tiro, por assim dizer.

Mo passou os últimos anos fugindo de Capricórnio e escondendo de Maggie o seu segredo. Segredo esse que está ligado ao desaparecimento da mãe de Maggie e ao “aparecimento” de Capricórnio em sua vida e como ambos estão ligados ao livro Coração de Tinta. Mas será que Mo conseguirá continuar fugindo dessa forma? Agora que a vida de Maggie corre perigo, Mo deverá de uma vez por todas encarar os seus problemas, e o seu dom, de frente.

Eu assisti ao filme Coração de Tinta há muitos anos atrás e embora eu tenha gostado da idéia da estória, eu não gostei do filme. Sabendo muito bem que adaptações conseguem estragar qualquer livro, por mais maravilhoso que seja, eu sempre quis ler o livro e realmente conhecer esse universo. Devo dizer que estava certa, que o livro sem sombras de dúvidas é melhor. A leitura de Coração foi extremamente leve, me levando a virar uma página depois da outra de forma tão natural que quase não senti o passar do tempo. A estória é de uma originalidade maravilhosa, com personagens encantadores e de uma complexidade surpreendente. Não tive como não me identificar com a Maggie e sua capacidade de ser tragada pelas estórias e de ter nos livros os melhores amigos que se pode imaginar. Assim como Elinor e toda a sua neurose no cuidado dos seus “filhos” e o fato de gastar todo o seu dinheiro com livros. Espero um dia ter uma casa como a dela, não por causa do tamanho e sim por causa da quantidade de livros.

- Por que está escuro aqui? - ela perguntou enquanto Elinor tateava as paredes à procura do interruptor.

- Porque prefiro gastar meu dinheiro com livros a gastar com eletricidade supérflua!

Por mais que o dom do Mo possa parecer algo maravilhoso, como eu disse, eu não gostaria nem um pouco de ter um dom desse, deve ser horrível na verdade. Toda a estória tem um ar mágico a envolvendo, mesmo se passando no nosso mundinho sem graça, e isso foi muito legal. Dedo Empoeirado tem uma marta, que é uma fofura só, mas que tem o humor de um gato furioso, o que o faz ser ainda mais fofo! Amando os protagonistas e odiando os vilões, sem dúvidas eu curt cada página desse livro e em breve irei ler as continuações.

A edição do livro é muito linda, a capa por si só já é linda e mágica, lembrando aqueles antigos livros de fantasia que eu lia quando criança. Ao final de cada capítulo há ilustrações lindas.

Eu acabei dando 5 estrelas para o livro e não tenho dúvidas em recomendá-lo para todos os tipos de leitores, de todas as idades. Um livro feito para quem é apaixonado por livros.

O mundo era terrível, cruel, impiedoso, negro como um sonho mau. Não havia lugar para viver. Os livros eram o único lugar onde havia compaixão, consolo, alegria… e amor. Os livros amavam a todos que os abriam, ofereciam proteção e amizade sem exigir nada em troca, e nunca iam embora, nunca, mesmo quando não eram bem tratados.

Classificação

Sobre a autora

Cornelia Funke nasceu em 1958 na cidade alemã de Dorsten, filha de Harlz-Heinz and Helmi Funke.

Quando criança, queria se tornar astronauta e ou uma piloto de avião, mas depois decidiu estudar pedagogia na Universidade de Hamburgo. Depois de terminar seus estudos, Funke trabalhou durante três anos como assistente social, se focalizando em crianças necessitadas.

Ela ganhava algum dinheiro ilustrando livros, mas rapidamente começou a escrever suas próprias estórias, inspirada naquelas com que ela havia agradado as crianças carentes com quem tinha trabalhado. Durante o final dos anos 80 e 90, Funke se estabeleceu na Alemanha com dois grupos de crianças, o que a inspirou a escrevera série de livros Gespensterjäger e Wilde Hühner.