Resenha: "Adultério" - Paulo Coelho

"Adultério"

Autor: Paulo Coelho

Editora: Sextante

Páginas: 239

Sinopse: Minha tristeza se tornou rotina, ninguém percebe mais. Não consigo mais dormir direito. Sinto-me egoísta. Continuo tentando impressionar as pessoas como se ainda fosse criança. Choro sozinha e sem motivo no banho. Só fiz amor com vontade mesmo uma vez em muitos meses – e você sabe bem de que dia estou falando. Já considerei que tudo isso seja um rito de passagem, consequência de eu ter passado dos 30 anos, mas essa explicação não basta. Sinto que estou desperdiçando minha vida, que um dia vou olhar para trás e me arrepender de tudo o que fiz. Menos de ter me casado com você e tido nossos lindos filhos

– Mas isso não é o mais importante?

Para muitas pessoas, sim. Mas para mim não é o suficiente.

Resenha:

"Adultério" conta a história de Linda, uma jornalista suíça de sucesso, com dois filhos e um marido exemplar e de boa condição financeira. Linda tem uma bela casa, carro, roupas de grife, frequenta os melhores restaurantes e tem tudo o que podemos julgar necessário para que uma pessoa seja feliz. Ela conseguiu! Ela vive o sonho de toda mulher.

Mas a realidade não é bem assim, através dos anos ela vem trazendo uma pergunta em seu coração, até que um dia de repente essa pergunta aflora: É só isso? Uma vida robótica, repetitiva, atrelada a convenções? Nada a surpreende, nada a faz sentir viva.

E é então que Linda começa a descida ladeira abaixo em seu emocional. As noites são intermináveis, as conversas vazias, levantar da cama para enfrentar outro dia se torna um martírio. A depressão se instalou em sua vida, e esta é uma hóspede exigente. Toma tudo ao seu redor e torna tudo o que toca cinza e sem vida.

Até que certo dia, no que seria mais uma entrevista para uma matéria, Linda reencontra Jacob, seu primeiro amor adolescente, hoje um importante candidato político. E por um momento toda a sua vida parece voltar no tempo, e nos olhos daquele antigo conhecido uma faísca faz seu coração anestesiado voltar a bater e ela encontra uma segunda chance, uma boia salva-vidas para evitar que se afogue em seu oceano de letargia. E naquela breve onda de vida ela se agarra com todas as forças nesta oportunidade, e eles acabam se entregando à luxúria ali mesmo em seu escritório.

A partir daí Linda sente uma energia fora do comum, sua vida morta não está mais condenada ao fim, ela tem algo pelo quê viver, um drama, um amor, sensações. E ela vai descobrir tudo o que é capaz de fazer na cama e fora dela nesse livro excitante que nos prende do começo ao fim.

Mas o leitor encontrará um prazer extra quando a mulher de Jacob, Marianne Kinney, uma dama de ferro, começar a dar sinais de que desconfia da traição do marido, então pare, passe pimenta nos dedos e volte a ler, porque a tensão entre essas duas mulheres implacáveis vai fazer você roer suas unhas até o final do livro. rs

Impressões:

A leitura desse livro foi um grande prazer, (sem nenhum erro de português, yey!) e eu fico pensando... “Como o Paulo faz isso? Como ele entra na cabeça de uma mulher de 31 anos e descreve tão meticulosamente detalhes emocionais tão íntimos?” Então, como já perceberam, os personagens foram muito bem construídos, os cenários bem claros e a leitura de uma fluidez ímpar.

A capa do livro é bem chamativa e sugestiva: 3 cerejas. Símbolo da tentação e sexualidade. E 3 foi um número mais que apropriado para o título. Como de costume o livro não é separado por capítulos, são mais como cartas, a história é contada em primeira pessoa e a impressão é feita em folhas de cor creme em excelente qualidade.

Um ponto negativo do livro pra mim foi um pequeno detalhe que me deixou confuso algumas vezes. Quase sempre as falas da personagem principal não são iniciadas com alguma sinalização, então às vezes nós ficamos perdidos entre o que ela está apenas pensando e no que ela de fato falou. Mas nada que realmente incomode.

O grande “X” do livro, embora o nome seja “Adultério” é a depressão, razão pela qual a personagem fez tudo o que fez. E o leitor segue com ela até o fim, na expectativa de se ela vai ou não conseguir se recuperar. Quem já passou por esse problema vai perceber que o autor foi muito realista na construção dos sintomas e das reações.

Li críticas em resenhas por essas semanas e tudo o que tenho a dizer é que quem criticou nunca passou por esse problema ou não conseguiu perceber a ideia que o livro quis passar. E, como agora eu também adotei o sistema de classificação por estrelas, dou para esse livro todas as 5. Poderia dizer que foi um trabalho impecável, tocante e divertido ao mesmo tempo. Autor e editora estão de parabéns!

"Choro no banho porque assim ninguém pode escutar meus soluços e fazer a pergunta que mais detesto ouvir: 'Está tudo bem com você?'
Sim, por que não estaria? Vocês estão vendo algo de errado na minha vida? Nada."

"Quando crianças aprendemos que, se choramos, recebemos carinho; se mostramos que estamos tristes, recebemos consolo.
Mas já não choramos - exceto no banheiro - nem sorrimos - só para nossos filhos. Não demonstramos nossos sentimentos porque as pessoas podem nos julgar vulneráveis e se aproveitar disso."