Resenha: As Mentiras de Locke Lamora - de Scott Lynch

As Mentiras de Locke Lamora

Nobres Vigaristas - Livro 1

Scott Lynch

Editora Arqueiro

Skoob

Sinopse: O Espinho é uma figura lendária: um espadachim imbatível, um especialista em roubos vultosos, um fantasma que atravessa paredes. Metade da excêntrica cidade de Camorr acredita que ele seja um defensor dos pobres, enquanto o restante o considera apenas uma invencionice ridícula.

Franzino, azarado no amor e sem nenhuma habilidade com a espada, Locke Lamora é o homem por trás do fabuloso Espinho, cujas façanhas alcançaram uma fama indesejada. Ele de fato rouba dos ricos (de quem mais valeria a pena roubar?), mas os pobres não veem nem a cor do dinheiro conquistado com os golpes, que vai todo para os bolsos de Locke e de seus comparsas: os Nobres Vigaristas.

O único lar do astuto grupo é o submundo da antiquíssima Camorr, que começa a ser assolado por um misterioso assassino com poder de superar até mesmo o Espinho. Matando líderes de gangues, ele instaura uma guerra clandestina e ameaça mergulhar a cidade em um banho de sangue. Preso em uma armadilha sinistra, Locke e seus amigos terão sua lealdade e inteligência testadas ao máximo e precisarão lutar para sobreviver.

Resenha

O que a cidade de Camorr tem de sobra são ladrões, assassinos e afins. Com centenas de gangues e todas elas devem obediência ao Capa Barsavi. Nessa mesma cidade, cheia de nobres extremamente ricos, pobres extremamente pobres e muitas pessoas em algum lugar entre os extremos, uma certa paz reina, a Paz Secreta. Basicamente, as gangues se comprometeram a não roubar os nobres (e os guardas) e e guarda da cidade muitas vezes vira a cara para certas atos não muito legais.

E é já durante essa paz que Locke nasceu. Após uma peste que mata a maioria dos adultos do bairro Pegafogo, Locke, com mais ou menos 5 anos, acaba indo parar no Morro das Sombras (uma antigo cemitério), juntamente com muitos outros órfãos que foram comprados pelo Aliciador dos casacas amarelas, que são um tipo de guarda da cidade. Ele mesmo na verdade não foi comprado, mas resolveu seguir os outros. O Aliciador, por sua vez, oferece comida, limitada, e um lugar para os órfãos morarem, em troca disso eles devem roubar para ele, não os nobres, é claro. Parece um destino terrível, mas ainda assim é melhor do que acabar virando um escravo. 

Segundo um antigo ditado camorri, a única constância da alma humana é sua inconstância;

O problema é que Locke acaba se mostrando desde o início muito capaz no quesito roubo e enganação. Ele rouba até demais. Ele na verdade não ficou órfão durante a peste, ele era antes disso, e já faz tempo que ele rouba para poder sobreviver. Mas o que ele tem de talento em roubar ele não tem em prudência. Pois até a Paz Secreta ele não respeita muito. Locke é inteligente, até demais de certa forma, os seus planos são até mesmo brilhantes, mas lhe falta a sutileza para pensar um pouco mais além. Devido a alguns casos graves demais para serem relevados, o Aliciador percebe que não tem como manter ele junto com os demais órfãos, pois estaria correndo vários riscos. Então ele decide que só existem duas opções, ou ele mata Locke ou ele consegue vendê-lo para o sacerdote Correntes.

Se eu não conseguir vendê-lo para você, serei obrigado a cortar a garganta dele e jogá-lo na baía - respondeu o Aliciador. - E terei que fazer isso hoje à noite.

E acaba que ele vai ficar com Correntes. Mas não se engane por ele ser um sacerdote, pois ele não passa de um vigarista profissional. Ele na verdade é um sacerdote do que se poderia considerar o Deus dos Ladrões, mas vive no templo do Deus dos Pedintes, se fazendo passar por um sacerdote dessa ordem. Correntes percebe rapidamente que os dons de Locke são perfeitos para o grande plano que ele está desenvolvendo, isso é claro, se Locke conseguir aprender a se controlar e a pensar antes antes de elaborar um plano.

O grande plano de Correntes é treinar Locke, assim como os gêmeos Sanza, para que eles se tornem os melhores tipos de vigaristas possíveis, os Nobres Vigaristas, para que eles então sejam capazes de enganar qualquer um, em qualquer situação, e possam roubar os nobres. Isso mesmo, ele está deliberadamente os treinando para quebrar a Paz Secreta.

Se ele estivesse com o pescoço cortado e um galeno estivesse tentado costurá-lo, Lamora roubaria a agulha e o fio e morreria rindo. Ele… ele rouba demais.

A narrativa dá um belo salto no tempo e já vemos os Nobres Vigaristas já adultos, totalmente capacitados para os seus grandiosos golpes. Locke já está bem famoso, embora sua existência não seja confirmada. Ele é uma espécie de lenda de Robin Hood, conhecido com o Espinho de Camorr, mas com uma pequena diferença, ele rouba dos ricos para ficar com o dinheiro e não para dar para os pores. Locke está em sua melhor forma, criando planos elaborados e geniais que garantem que eles consigam muito dinheiro. E logo de cara eles já estão trabalhando em um novo e grandioso golpe. O plano é bem simples, enganar um Dom e conseguir arrancar metade de sua fortuna.

Conforme vamos acompanhando o desenrolar desse golpe, outros aspectos da estória também estão desenrolando. Por estarem quebrando a Paz Secreta, ninguém sabe o que os Nobres Vigaristas realmente fazem. Todos acham que eles são ladrões medíocres e eles conseguem enganar a todos, incluindo o perigoso Capa. 

O Capa já está reinando há anos nesse submundo do crime e consegue perfeitamente manter a ordem nas gangues com o seu punho de ferro. Porém nos últimos meses um outro homem está desafiando o seu poder. Ele conhecido como Rei Cinza e ele fica agindo nas sombras, matando os garristas (um garrista é um líder de uma gangue) mais fiéis ao Capa, um a um.

Locke também corre risco, pois ele é o garrista dos Nobres Vigaristas e ainda por cima é amigo da Nazca, a filha do Capa Barsavi. Mas mesmo com o risco do Rei Cinza ir atrás dele, Locke não está muito afim de abandonar o seu golpe em andamento. 

De golpistas, os Nobres Viagaristas se verão no meio de uma trama muito mais perigosa do que qualquer golpe que eles já deram. dessa vez a aposta será muito maior e suas vidas estarão em jogo.

Não preciso de ninguém para me lembrar que estamos mergulhados em água escura até o pescoço. Só peço a vocês que se lembrem de que os malditos tubarões somos nós.

A narrativa de As Mentiras seguem dois tempos diferentes, nós acompanhamos o que está ocorrendo no presente, com os Nobres Vigaristas já adultos, e também os seus anos de treinamento, quando outros personagens que aparecem no presente são introduzidos. Além do Locke e os gêmeos (Calo e Galdo), temos outros 3 Nobres. O livro é narrado em terceira pessoa e cobre eventos que estão ocorrendo com os Nobres, com outros personagens e até mesmo histórias passadas de Camorr que nos fazem ter uma idéia muito melhor sobre a cultura local.

Por falar em cultura, o autor não nos poupa em detalhes e costumes que fazem desse livro uma grande obra de fantasia. Deuses próprios, magias, línguas, hierarquia, etc. A única coisa que faltou foi um mapa para eu poder situar as cidades citadas. Isso sem falar da escrita do autor. Ele é extremamente fluida e nos prende cada vez mais, a cada página. No final do livro você estará tão vidrado para saber o que irá acontecer que corre o risco de você bater em alguém se for incomodado durante a leitura (eu sei que eu quase fiz isso). Os personagens são maravilhosos, Locke é um anti-herói cheio de falhas, mas que mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, nós amamos. Também amei os demais Vigaristas e quase enfartei em diversos momentos. Logicamente, dei 5 estrelas para o livro e o favoritei.

Sobre a edição do livro. A capa é linda e as páginas são amareladas. O tamanho da fonte é um pouco menor do que o normal quando comparado a livros de outros gêneros, mas não muito diferente do tamanho da maioria dos livros de fantasia. A única coisa que senti falta foi realmente o mapa, conforme já tinha dito.

Sem dúvidas eu recomendo esse livro, principalmente para os fãs de fantasia. Mal posso esperar para ler o próximo.

- Pulga, Locke é nosso irmão e nosso amor por ele não tem limites - falou Calo. - Mas as três palavras mais fatais de toda a língua teria são “Locke teria apreciado”.

- Comparáveis apena a: “Locke me ensinou um truque novo” - comentou Galdo.

- A única pessoa que se safa com os golpes de Locke Lamora…

- … é Locke Lamora…

- … porque nós achamos que os deuses o estão poupando para uma morte realmente grandiosa. Algo com facas e ferros incandescentes…

- … e cinquenta mil espectadores aplaudindo.

Classificação

Sobre o autor

Scott Lynch é um escritor norte-americano de fantasia que estreou com a obra As Mentiras de Locke Lamora, primeiro volume da saga Os Cavalheiros Bastardos (do nome original Gentleman Bastard), tornando-se uma das maiores revelações dos últimos anos. Natural do Wisconsin, teve uma série de empregos até se dedicar tempo integral à literatura. Lynch é também bombeiro voluntário na sua terra natal.