Adriana Vargas
Sinopse: Quando chega a noite, meio à escuridão, ela surge linda, faminta de almas... Zephyr, gótico e devoto agente funerário no distrito de Piraputanga, passa seus dias, embalsamando cadáveres da pequena cidade em que vive, escondendo os segredos que permeiam sua vida, um deles, o corpo do pai, embalsamado, escondido no quarto - meio que encontrou para se livrar da solidão. Frequentador de cemitérios nos momentos de reflexão, ele passa a ser assombrado pela inesquecível presença de Lilith, um demônio que lutará até o fim para roubar, não somente seu coração, sobretudo, sua alma.
Resenha:
Mais uma vez encontrei nas páginas de um livro gênero sobrenatural a poesia, o amor descrito em palavras, encantos e fantasias. Esse é e sempre será o dom da autora Adriana Vargas, ela conseguiu transformar uma história sobrenatural numa verdadeira declaração de amor eterno. Conseguiu pintar o lado negro com as cores do amor infinito, o conto é sombrio, mas, nem por isso menos romântico.
A história se passa na cidade de Piraputanga no distrito de Aquidauana em MS, uma cidade pequena com um povoado simples e com muitas histórias pra contar. Passava-se de boca-a-boca lendas e causos sobre almas penadas, assombrações de antigos habitantes da região que morreram ou desapareceram de forma peculiar e que em noites de lua cheia manifestavam-se nas ruas e casarões, assombrando os novos moradores e turistas curiosos mais corajosos que por lá pernoitavam em busca de aventuras. O local tinha uma aparência sombria, com casas antigas, pessoas assustadas e desconfiadas, o ar congelante e fúnebre, dava mais enfase ao clima de mal assombrado.
Em meio a esse clima sombroso, destacava-se um casarão muito antigo e maltratado pelo tempo, os que se atreviam passar perto dele, sentia arrepios e maus presságios. Dizia as más línguas que era assombrado por almas de seus antigos moradores, ouvia-se gritos e choros de lamentações vindo de dentro, podia-se até ver os vultos por trás das janelas, algumas pessoas assustadas já havia mudado para as cidades vizinhas, outras simplesmente desapareceram sem deixar vestígios.
Mas, não era uma casa totalmente abandonada, lá morava Zaphyr, um jovem de 20 anos de olhar triste e vazio, que encontrou a sua paz isolando-se dos moradores locais, que com suas ignorâncias e preconceitos o repelia por causa do local onde morava e do seu jeito de ser e vestir, gostava do estilo gótico vitoriano, tornava-se estranho e assustador aos olhos do povo. Diziam que ele era o Mal em pessoa, mas no final, todos um dia procurariam por Zaphyr a fim de solicitar os seus serviços de agente funerário. Além de sua morada, a sua casa também era o local de trabalho, lá funcionava uma funerária, que antes pertencia ao seu pai e passou para o filho após um incidente.
Seus dias resumia-se em receber corpos para embalsamar e preparar para o velório, zelar pelos "cuidados" de seu pai "acamado", participar de ceitas solitárias para os mortos e à noite navegar em sites góticos na internet e enamorar "Y" a jovem misteriosa que conhecera no blog que criara em homenagem a Deusa Lilith. Enquanto trocavam mensagens com juras de amor e ansiavam pelo breve encontro que teria com "Y", Zaphyr desenhava as fisionomias de sua amada Deusa babilônica do qual nutria uma admiração quase doentia. Mas, Zaphyr desconhecia que dessa obsessão pela imagem da Lilith o traria de fato para perto dela e sua vida viraria de cabeça para baixo.
Coisas aterrorizadoras passariam a acontecer na vida do jovem e de todos em sua volta, Zaphyr estaria ligado a um destino nada agradável, sua perdição estaria ligado a carne e a sua salvação estaria ligado a sua redenção. Lilith não o deixaria até que sucumbisse a sua alma e seu coração, estava disposta a trazer o caos à cidade a perdê-lo para outra, mostrou-se exatamente como era, perversa, cruel e caprichosa. E Isa, quem de fato era a menina que confundia os sentimentos de Zaphyr e causava ira e ciúmes em Lilith?
Impressão:
Quando recebi o original para avaliação, estava certa de que encontraria um livro que iria me chocar ou me deixar sem dormir pelo seu tema assustador, conheço parte da história de Lilith da mitologia babilônica e seu conteúdo é arrepiante.
Foi sim, um processo arrepiante, pois, vi até ligações e citações históricas e mitológicas que encaixava-se como uma luva na obra, fiz comparações e ficava cada vez mais surpresa e ansiosa. Lilith, a que veio antes de Eva, a primeira mulher que não foi citada, àquela que foi rejeitada por Adão, que foi trocada por Eva e sentindo-se traída, induziu o casal ao pecado, foi expulsa do paraíso, mas, levou consigo o casal de amantes. A mesma Lilith estava de volta nessa obra aterrorizando com o mesmo intuito de antes e com resultados devastadores.
Em meio de maldições, assombrações, lendas, citações da mitologia babilônica, perversão e destruições, encontrei a esperança, a compaixão e um novo significado para "feliz para sempre".
Apaixonei-me pelo jovem casal, a inocência de Isa e seu amor por Zaphyr me cativou, a delicadeza e cuidados de Zaphyr em protege-la me fez ver que ele não era tão mórbido como parecia ser, apesar de que ele as vezes me dava asco por conta de sua frieza profissional, fazer o que né?
Os segredos de Isa, não foi uma surpresa pra mim, alguma coisa me dizia que ela... Não vou falar(rs).
Me afligi com mistério em torno da vida de cada membro da trama. Os personagens foram bem construídos, tem um jeito peculiar de ser, suas características e personalidades me envolveu a ponto de sentir raiva, dó, alegria e tristeza no destino dado a cada um.
A autora usou de uma escrita simples, direta e objetiva, caprichou nos detalhes e descrições do local, levando-nos para dentro da atmosfera sombria, deveras assustadora e surreal. A cada página um arrepio, a cada conclusão de capítulos uma expectativa, e quando finalizei a leitura suava frio e sentia-me satisfeita com o desfecho esclarecedor, mesmo que pra uns não seja o esperado, pra mim, foi o mais perfeito.
Adriana, mais uma vez, e espero que por mais milhares de vezes ei de repetir que sua obra é exatamente o que esperamos encontrar nas nossas estantes. Parabéns!
Indicadíssimo, mas, assim como a autora reforço aos mais frágeis e impressionados, nada de ler o livro a noite, ok?
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