ENTREVISTA
Olá Adriana é com grande prazer e venho apresentá-la aos amigos da Cia do Leitor. Todos nós temos curiosidade de conhecer a autora, coordenadora do Clube e agora agente da MODO Editora, Adriana Vargas. Primeiramente quero agradecer a sua presença aqui no Cia e tempo que disponibilizou para essa entrevista.
A primeira pergunta sempre é de praxe. Adriana, você poderia contar um pouco da sua trajetória profissional como escritora?
Comecei muito cedo, nem eu mesma sabia que era escritora, quem me disse isso, foi o primeiro concurso literário que venci aos oito anos de idade, era um evento infantil, que começou em minha cidade, depois no regional e depois no nacional, e venci todos, só se faziam um ano que eu havia aprendido a escrever. Antes disso, eu desenhava todas as estórias que vinham em minha cabeça, em imagens sequenciais.
Quando começou sua paixão por livros? Como foi?
Aos seis anos, minha mãe comprava livros ilustrados, não os normais, de lendas e fábulas, e sim, enciclopédias infantis, que me mostrava o desenho, associado com o seu significado. Isso me ajudou muito a me apaixonar pelas palavras e ter intimidade com elas. Foi neste momento em que me vi apaixonada pelas letras, mas sem nem imaginar que um dia seria escritora.
Sabemos que o primeiro livro a ser publicado será O VOO DA ESTIRPE, estou certa? O que ou quem te inspirou a escrevê-lo? Fale-me um pouco da sua obra.
O que me inspirou a escrever este primeiro livro ( na fase adulta) foi o caos; a sensação de morte que estava passando, pois estava me recuperando do meu segundo AVC em menos de um ano. Neste momento, parei e passei a observar as pessoas e a forma como elas lidavam com a vida e consigo próprias. Aproximei-me das pessoas mais interessantes que conheci e passei a costurar uma colcha de retalhos sentimentais que deram vida a este livro que hoje fazem as pessoas chorarem ao ler.
Em uma entrevista que você cedeu ao blog Caçadora de Livros, você declarou que passou por maus lençóis até concluir O VOO DA ESTIRPE, como foi isso?
Tudo começou com a sequência de derrames (AVC), fim de um casamento, perda do emprego, mudança de casa, hábitos, amigos, e por fim, uma enchente que inundou a minha casa, fazendo com que eu perde-se meu manuscrito, pois ainda não havia passado para o computador. Tive que reiniciar baseando-me num roteiro, o que em muitas vezes, tive uma vontade enorme de desistir, porém, a força que vinha deste livro, foi sentida de certo modo, tão forte, que me fez incapaz de mudar de ideia. Assim, terminei a odisseia que foi escrever este livro que possui um significado muito forte e muito vivo em minha vida.
Aliar-se ao blogueiros de plantão é um dos segredos principais do escritor?
Nizete, me baseio mais na ideologia em conjunto. Acho que tudo que se une forças, em um só objetivo, cria asas e voa. O resultado é apenas uma consequência. O amor que existe pela literatura neste meio é algo fenomenal, que irradiou até em minha casa. Minha família nunca foi de prestar atenção no que eu fazia em relação às obras e divulgação. Hoje me assessoram, divulgam comigo, os livros de autores que eles nunca viram antes. Posso dizer, que quando há sinceridade de sentimento com aquilo que se faz, o milagre sempre acontece, e aconteceu em minha vida, como irá acontecer na vida de todos que acreditarem na energia combustora do que os move. Sei que os blogs não ganham salário para fazerem o que fazem e, se fazem, só me resta uma alternativa, acreditar que seja por amor. Isso já encerra todas as outras justificativas.
Como foi a sua "caça" à Editoras até encontrar a MODO que além de aprovar seus livros, ainda te disponibilizou uma vaga de Agente literária?
@#$%& - Foi o mais tenso possível! Cansei de chorar sobre o computador. Fiquei obcecada pela ideia de ser publicada. Procurei mil e um lugares que nem me deram a mínima. Eu era, como ainda sou, apenas mais uma. Gritei aos quatro cantos dessa internet. Queria tirar de dentro a angustia que era de engolir a rejeição. Muitas queriam apenas o meu currículo, outras, minha biografia. Outros, uma indicação de alguém conhecido na área. Muitas, queriam saber quanto eu poderia investir para ver meus livros publicados. Fui na revista época e "meti bronca", achei insuportável ver um colunista brasileiro meter o pau na literatura nacional e por no colo a estrangeira, com entrevista e tudo.
Após uma postagem que fiz em meu blog, fiz questão de enviar para muitas editoras, recebi e-mail de algumas; umas até de outros países. A partir daí, passei a receber convites de publicação (hahaha) era a minha vez de escolher. Quatro editoras queriam publicar meu livro, algumas delas, queriam até firmar contrato comigo, como autora exclusiva. Analisando as propostas, achei muito esdruxulosa muita coisa que li nos contratos, chegando até a ser ofensivo. Por fim, desisti de todas... Percebi que queria muito mais do que publicar - queria respeito. Queria publicar e ser valorizada como autora, e não, como mera escritora - escrever para alguém ganhar dinheiro em troca de míseros trocados, em certo ponto, até prostituídos. Sempre tive um gênio (do cão), novamente, "meti bronca". Encontrei a MODO, e mandei pela milésima vez o meu original. Nem falava mais que era coord. do CNA, pois não queria que me aprovassem por isso, foi então que aprovaram meus dois livros. Quando me perguntaram de que forma eu poderia cooperar com a divulgação, eu disse que poderia fazer isso pelo CNA, e então revelei. Eles me fizeram, primeiramente a parceria com o CNA, e depois, a proposta de trabalho, o qual, na primeira oportunidade eu disse: aceito, desde que seja no ritmo que trabalho com os novos autores.
Como consegue conciliar as três atividades, Escritora, coordenadora do Clube dos Novos Autores e Agente literária da MODO Editora?
Bom... Estou com o tempo escasso para a escrita. Tenho projetos interessantes, traçados e iniciados, porém, sem tempo para desenvolver, creio que no momento certo, quando der para voltar à tona, será maravilhoso... Pois hoje, estou muito mais madura em certos pontos que irá beneficiar muito a minha escrita. Quanto ao CNA, passamos por uma reforma para melhor atender nossos leitores, inclusive, estamos abrindo um concurso literário para acolher novos autores, o prêmio será uma publicação tradicional com a MODO. Como agente, concilio o CNA com a MODO, tranquilamente.
Qual o verdadeiro intuito do Clube dos Novos Autores? O que você aprendeu com ele?
Aprendi a abrir a mente. Artista é o cúmulo do egocentrismo. Hoje convivo com a crítica e vivo dela, pois este também é meu trabalho e sei o quanto é necessária para uma melhoria que depende do tempo e dedicação. O CNA me ensinou a lutar pelos meus sonhos, me trouxe grandes amigos e muitas lições de vida.
Voltando aos livros. Qual ou quais os personagens prediletos e em quem você se inspirou para fazê-lo(s)?
Ah, meus personagens são pessoas comuns e reais. Na Clarice, de O voo da estirpe, me inspirei no Marcio Nogales, um grande e louco amigo, o mais ofegante e intenso que já conheci. Eva, de O segredo de Eva, foi quando convivi com uma pessoa que se apaixonou desesperadamente por um amigo casado. Klaus, O voo da estirpe, foi o melhor de todos os homens que já passaram pela minha vida. Henaph, de O Oitavo Pecado, uma antiheroína inocente, foi nas mulheres que conheço, que morriam de vontade de ter dois homens aos seus pés, e a sua personalidade, egocêntrica e infantil, foi no "não" desejo de crescer.
Está com novos projetos? Quais são os próximos livros a ser lançado pela MODO da autora Adriana Vargas?
Então, como disse, estou com projetos deliciosos:
- Borboletas na Primavera, um amor quase infantil entre dois jovens que se dá na ditadura militar. Com muitos conflitos e rebeldia. - adoro quando consigo ter tempo em escrevê-lo.
- Inocence, a sociedade secreta das fadas - um fantástico, mas com cenário real na vida cotidiana; mistura seres e humanos em uma organização que gira em torno de um segredo. - gosto muito deste livro, pois tem uma escrita forte e emocionante e trata de seres que buscam regeneração em reuniões secretas.
Em nossa conversa isolada no facebook, você mencionou que esta escrevendo um maravilhoso livro que se passa nos anos 60, de onde vem tanta inspiração? Quer nos contar um pouco sobre ele?
Então, este é o BORBOLETAS NA PRIMAVERA, como sou apaixonada pelos The Beatles, queria escrever algo que envolvesse essa atmosfera, juntamente com um amor proibido, e foi assim que nasceram as personagens. A trama se dá na Espanha, em uma época em que o regime "franquista" devassava o País, sendo um dos países que mais foram severos neste período político. Analy se apaixona por Vidal, um locutor de rádio, e ele por ela, ao mesmo tempo, quando a viu em uma praça, porém, um não sabe do outro. Encontram-se em uma viagem de trem, e vivem um grande e intenso amor, porém, nesta época, por muitos segredos que envolvem a trama, ela se vê obrigada a um casamento por conveniência política, ao mesmo tempo que se vê envolvida no movimento opositor à ditadura. Um amor vivido em tempos de guerra fria, envolto a ideologia, luta, sede por liberdade e sangue.
Qual sua preferencia, clássico ou fantasia?
Os dois possuem os seus sabores, porém, a fantasia para mim, é algo novo, que passei a escrever e me delicio completamente.
Você concorda que e-book esta arriscando a existência do livros impressos? O que diz a esse respeito?
Sou uma pessoa conservadora. Gosto do aspecto físico do livro e do relacionamento que tenho com ele. O livro me deixa com sensação de liberdade, posso ler onde eu quiser. Um e-book vai condicionar a minha leitura; vai me deixar desconfortável. Se chegar a suprimir a existência dos livros, infelizmente, vou sentir muita falta do aspecto material que tem volume, cheiro e textura enquanto leio.
PENSA RÁPIDO:
Um livro: A escolha de Sofia
Um Autor: Jeanette Winterson
Uma música: Elephant Gun
Um filme: Dr. Jivago
Um sonho: Levar o CNA para a BIENAL
Adriana, foi muito legal conversar com você. Quero agradecer sua paciência e disposição para que essa entrevista fosse possível de acontecer. Gostaria de deixar algum recado aos leitores?
Obrigada querida Nizete. Esses dias eu li uma matéria horrível de uma desinformada falando sobre os blogs brasileiros, e queria apenas dizer que, é tão fácil rotular uma luta, difícil é saber o que é que esta pessoa teve que fazer para conseguir chegar onde chegou, longe ou perto, bem ou mal, agrandando ou não... Fico imensamente feliz em saber que existem pessoas que lutam para mudar algo neste País. O que é, em muitas vezes, menos reconhecido do que alardar por meio de fumaça e polêmicas, porém, sem levantar sequer, um dedo para fazer o que poucos ousam - lutar pela nossa literatura, e ainda bem que existem os blogs literários. Para a tal da senhorinha do site do Caldeira Brant, meus pêsames pela ignorância literária.
Onde encontrar Adriana:
http://clubnovosautores.blogspot.com
http://escritoraadrianavargas.blogspot.com
Twitter: @ClubeNAutores