Voltando a ativa, após toda festividade de aniversário do blog, cá estou pra falar de um livro que li, não, saboreei cada página e me fascinei com cada palavra escrita.
conheça, AS FLORES DO RUANDA, livro do nosso querido e simpático autor Adelson Costa publicada pela editora Livro Pronto.
Sinopse: "De 06 de abril a 10 de julho de 1994 ocorreu em um pequeno país centro-africano chamado Ruanda uma matança indiscriminada de milhares de indivíduos da etnia tutsi perpetrada pelos hutus com os quais convivem. As Flores do Ruanda é um romance que relata a épica jornada de um ano de duração de uma médica americana, Dra. Isabelle, inserida em um contexto hostil de guerra civil a serviço da Cruz Vermelha Internacional. O seu contato com os pigmeus africanos denominados twas nos apresenta este povo sofrido que, sem ao menos perceber as razões da matança generalizada, foi impiedosamente chacinado. Expulsos do Ruanda pelos hutus, os tutsis se organizam no exílio do Uganda e fundam a Frente Patriótica Ruandesa, grupo guerrilheiro armado que invade o país a partir do Norte, em busca da retomada do poder político central. Este esforço demanda intensas contendas e batalhas sangrentas, motivando a retaliação hutu por meio do genocídio ruandês, que visou o extermínio da etnia opositora".
Grande parte do livro se passa no ano de 1994 e tem como plano de fundo a guerra civil em Ruanda, mais precisamente o genocídio que aconteceu entre as duas etnias Tútsi e Hutu e dá destaque a outra raça pouco citada nos livros e reportagens espalhada pela internet, os Twas.
Não é propriamente um livro de história, porém, usa fatos verídicos, polêmicos e extremamente marcantes para narrar uma história fictícia e paralela a fatos reais. Ou seja, mistura personagens fictícios em um cenário real e motivos e consequências reais. Quem de fato eram os personagens fictícios? Eram todos tão reais!
O livro AS FLORES DE RUANDA foi escrito em duas narrativas, a primeira é contada pela personagem principal onde nos passa todo o sentimento de revolta e impotência. A segunda, através dos olhos de autor, onde conta detalhadamente os acontecimentos da época e fala através de outros personagens.
O mais interessante é o tempo em que tudo acontece, o momento do genocídio por exemplo, é visto de vários ângulos, e nos é apresentada através de várias pessoas em tempo real.
No meio do livro já estava eu pesquisando na internet tudo sobre o tema, queria ficar mais informada para envolver-me mais na história e veja, percebi que na maiorias das reportagens espalhadas pela internet, pouco se fala dos Twas - ínfima etnia residual que se distingue pela sua muito pequena estatura e pela sua especialização na caça e na cerâmica - " Ser Twa é ser o ultimo a comer e roer o osso".
Adelson Costa nos deu a oportunidade de conhecer um pouco essa etnia ignorada por serem considerados insignificantes.
Somos apresentados a protagonista do livro, a jovem americana Dra Isabelle de 25 anos, filha do importante e respeitado senador dos Estados Unidos, que foi enviada através da Cruz Vermelha para Ruanda no meado de 1993 onde já existia o conflito entre as duas etnias, passa a trabalhar para o elegante médico inglês, Dr. Mike, que também era respeitado e muito querido pela classe feminina por sua fama de galanteador. No decorrer da história, conheceremos um lado obscuro do Dr. Mike, que será desvendado somente no final do livro. Isabelle é admirada pelas mulheres Tutsi e Twas e odiada pelos Hutus por causa do seu senso de justiça e bravura, lembra-me muito Joana D'arc, uma heroína lembrada com orgulho por seus atos de amor ao próximo e a justiça.
Somos também apresentados ao povo de pigmeus chamados Twas, em particular me apaixonei pelo twa de nome Tharcisse Mugabe, um floricultor de 27 anos que vivia à sombra da Podocarpo vendendo suas flores usadas nos eventos fúnebres. Tharcisse era uma pessoa muito meiga, gentil e fiel a sua amizade com a Dra Isabelle. Mesmo passando por diversas situações de risco, humilhações e agressões, a consideração e fidelidade pela doutora era imensuravelmente inabalável e linda.
É destacado também um outro pigmeu, Mokono, considerado pela aldeia um mito, um guerreiro protegido pela magia. Mokono era diferente, atrevido, arruaceiro, o mais corajoso de sua raça, no decorrer da leitura vamos descobrindo que existe algo que o difere dos outros twas, as suas atitudes são impulsivas, mas no fundo tem um propósito que conhecemos no final do livro.
Abominei o personagem de nome Canisous Rubuga, líder do grupo miliciano nominado Interahamwe, um sanguinário, desumano que tem o prazer de cometer todo o tipo de atrocidade contra as etnias Tutsi e twa, e a cada ato cruel cometido mais forte se sente para dar continuidade.
Embora enlouquecedor, porém respeitado, admirei o tenente tutsi Ota Uwiragiye por sua fibra e empenho por ajudar o capitão Aaron Bitero e seu objetivo de apaziguar o conflito que estava encaminhado para o genocídio.
No geral, existem personagens que você vai odiar e outros que você irá amar e torcer até o fim. Chorei diversas vezes emocionada com as atrocidades cometida pelos Hutus e também algumas vezes pelos Tutsis. Todos os personagens são marcantes, todos tem um papel importante na história. Dra Isabelle, esteve tão presente em diversas ocasiões que aconteceram na vida real que me perguntei se ela realmente existiu... Ela se envolveu totalmente com o povo sofrido na tentativa de ajudar-los ou evitar os acontecimentos mais pavorosos da humanidade.
Ressalto que no livro assim como na vida real é mostrado que no final as conseqüências foram diversas, além do trauma psicológico, resultou em milhares de crianças órfãos, milhares de mulheres que contraíram AIDS nos estupros acometidos, e todos os mutilados que não conseguem restabelecer suas vidas até hoje.
Já passamos por situações parecida tantas vezes, como no holocausto na 2ª guerra mundial que também teve como objetivo exterminar uma raça ou diversas.
Tendemos a acreditar que aprendemos com os erros do passado, mas esse tipo de coisa me faz questionar se isso é realmente verdade.
AS FLORES DE RUANDA nos alerta que o passado deve servir de exemplo. A falta de assistência, o descaso, o racismo, a intolerância, só nos leva ao fundo do poço e os fracos para sair dele arrasta, consigo inocentes pra servir de escada.
Apenas uma coisa me incomodou, o tamanho da fonte.
Porém, desejo parabenizar a narrativa, as descrições dos locais e situações, o vocabulário rico e renovador.
O Autor estava abençoado quando escreveu esta perfeita obra.
Um livro merecedor do Prêmio Nobel ou Prêmio Jabuti considerados o maior prêmio da literatura brasileira.
Parabéns Adelson Costa.
Tentarei resumir os acontecimentos reais que marcaram a história de Ruanda.
"Muito anos atrás, por séculos, a antiga monarquia de Reis Tutsis, mantiveram a paz e harmonia entre as etnias Hutu, Tutsi e Twas em Ruanda, a maioria eram Hutus, a minoria eram Tutsi e uma parcela insignificante era de Twas(pigmeus). Até que os belgas colonizaram e transformaram a estrutura social do país em um regime descriminatório.
Influenciaram e destruíram a harmonia entre as três etnias, os belgas apoiavam a aristocracia dos Tutsis e com isso recebia uma educação superior. Era bem clara a preferencia dos belgas pelo Tutsis em meio de tantas regalias. Os Hutus sentindo-se descriminados, foi dado o inicio a um amago ressentimento que futuramente viraria ódio.
Quando os Tutsis sentiram-se fortes e preparados, reivindicaram sua independência, os belgas contrariados atiçaram mais o ódio que já aflorava nos corações Hutus e apoiaram o primeiro massacre contra os Tutsis. Bélgica abandonou o país deixando-o ser regido por um governo Hutu, os Tutsis havia sido rebaixados a cidadãos de segunda classe, sofriam humilhações, agressões e morte, o que já era comum para a população. Em 1983 a 1988 já sob o governo do presidente Juvenal Hanyarimara os Tutsis foram perseguidos novamente expulsos de suas casas e assassinados nas ruas para se cumprir a lei de "equilíbrio étnico" que usava absurdamente como desculpa as vagas nas escolas que seria distribuídas da seguinte forma: 85% para Hutus, 14% para Tutsis e 1% para Twas. Tudo era pretexto para livrarem-se dos indesejados Tutsis e insignificantes Twas. Milhares de Tutsis fugiram dos massacres durante todo o conflito migrando para os países vizinhos.
Em 1990 um grupo de soldados Tutsis rebeldes nominada Frente Patriota de Ruanda (FPR) sob a direção doe Paul Kagame (atual presidente de Ruanda) cruzava a fronteira afim de conflitarem e acabar com as atrocidades, retornar a Ruanda e tomar o poder. Os políticos Hutus criaram então uma milícia juvenil chamado "Interahamwe" com o intuito de exterminar o "Tutsi" atravessasse seu caminho, eram extremamente violentos e insanos, queria fazer a "limpeza" étnica no país.
A situação ficou fora de controle em abril de 1994 com a morte do presidente Juvenal, o avião em que ele se encontrava, foi bombardeado tirando-lhe a vida. Tal episódio deu inicio ao genocídio em Kigali tirando a vida de quase 1 milhão de pessoas, em sua maioria Tutsis em um período de 3 meses. Em junho de1994 a tropa FPR conseguiu entrar na capital de Kigali com o apoio do exercito frances de manutenção de paz e garantir a instauração de um novo governo, finalizando o caos sob a terra Ruandesa, o general Paul Kagame ocupa o cargo de vice-presidente e posteriormente o de presidente."
"As atrocidades aconteciam diante de nossos narizes, desde 1988 e agravou-se com o genocídio em 1994 e nenhum órgão de segurança mundial, como a ONU, interveio a fim de acabar com o mal que assolava as terras ruandesas. A omissão foi plena e desumana. ONU, Direitos Humanos e a Igreja, que essas omissões custaram a vida de mais de um milhão de pessoas."
Confesso que na época do genocídio estava eu muito atarefada com cuidados maternos, minha filha ainda nova, necessitava de atenção e eu mal assistia as notícias na TV ou qualquer outro meio de comunicação, era uma desinformada e omissa aos acontecimentos do mundo. Mas, ao ler este livro, percebi que enquanto zelava pela saúde e felicidade de minha filha, do outro lado do oceano mães sofriam pela perda de seus filhos e das próprias vidas, por conta do massacre desumano em Ruanda.
Um minuto de silêncio pelas vítimas de Ruanda...
... Obrigada.