Resenha: O Sol é Para Todos - de Harper Lee

O Sol é para todos

Harper Lee

Editora José Olympio

Skoob

Sinopse: Um livro emblemático sobre racismo e injustiça: a história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 1930 e enfrenta represálias da comunidade racista. O livro é narrado pela sensível Scout, filha do advogado. Uma história atemporal sobre tolerância, perda da inocência e conceito de justiça.

Resenha

Toda vez que começo a ler um livro que é considerado um clássico, fico sempre temerosa de me decepcionar de alguma forma, afinal as expectativas são sempre enormes. Pois dessa vez eu tive a felicidade de ter minhas altas expectativas atendidas com louvor.

O Sol é para todos é narrado por uma garotinha chamada Scout. Por ter perdido sua mãe muito cedo e ter sido criada somente pelo seu pai e com o um irmão mais velho, Scout passa longe de ser uma dama perfeita. Ainda mais para época em que ela vive. A estória se passa em 1930, em um Estados Unidos ainda sofrendo os efeitos da grande crise e principalmente ainda sofrendo os efeitos causados pela escravidão (e continua sofrendo até hoje). Para piorar ainda mais a situação, ela vive em uma pequena cidade sulista, onde os negros sofrem de forma extrema os efeitos desse preconceito.

Você é muito jovem para entender isso, mas às vezes a Bíblia na mão de um determinado homem é pior do que uma garrafa de uísque na mão de… ah, do seu pai.

Mas Scout não sofre com esse preconceito, afinal é uma menina branca, vinda de uma das famílias mais antigas e respeitadas da região, embora o pai dela esteja acabando com a credibilidade, por assim dizer. O pai de Scout, Atticus, é um advogada que sempre se preocupou em ensinar aos seus filhos o que é correto, mesmo que não tenha ensinado Scout a ser uma dama. E Scout e seu irmão, Jem, parecem bem felizes com suas vidas pacatas, sempre brincando e tendo pequenas aventuras.

Tem gente que… se preocupa tanto com o outro mundo que não sabe viver nesse aqui, basta olhar na rua e ver o resultado.

Mas a vida pacata começa a mudar aos poucos. E tudo começa com a chegada de Dill, o sobrinho de uma das vizinhas, que começa a passar as férias de verão por lá. Por não conhecer a região e as pessoas, Jem e Scout começam a explicar tudo para ele. E no meio da apresentação de todos os vizinhos, eis que eles chegam à Boo Radley, que na verdade se chama Arthur. Esse é o vizinho mais misterioso que existe por ali, afinal as crianças nunca o viram, pois ele nunca sai de casa. Elas apenas sabem a história dele, onde não dá para saber o que é verdade ou não.

E é claro que, sendo um mistério tão completo, Dill fica extremamente empolgado e curioso sobre ele. E acaba arrastando os irmãos em uma missão de conseguir fazer com que Boo deixe sua casa. E o que é ainda mais claro é que é mais difícil conseguir isso do que parece.

Nunca sabemos como realmente vivem as pessoas. O que acontece por trás das portas fechadas, os segredos...

E no meio de todo esse mistério sobre Boo, outro fato ainda mais importante acaba marcando a vida deles. O seu pai começa a defender um homem negro, que está sendo acusado de estuprar uma mulher branca. E isso obviamente começa a criar um verdadeiro caos na cidade, afinal negros são vistos como nada mais do que animais selvagens. Atticus e seus filhos começam então a sofrer com as críticas e represálias dos habitantes da cidade.

Com uma das narrativas mais fluídas que já tive o prazer de ler, o livro nos leva para uma outra época. Vemos um lado muito feio do ser humano, sob o ponto de vista de uma criança, que só agora começa a compreender a profundidade do que o seu pai está se propondo a fazer. Harper Lee nos apresenta um julgamento onde o que o fator mais decisivo para uma condenação não é a existência ou não de um crime e sim a profundidade do ódio racial.

Cheguei à conclusão de que as pessoas eram estranhas. Por isso, mantinha distância e só pensava nelas quando era obrigada.

Antes de ler esse livro, já tinha lido em muitos outros livros comentário de personagens que dizem que Atticus era um exemplo de pai. E agora devo concordar com esses personagens. Sem se deixar abalar pelos preconceitos de seus vizinhos, Atticus busca sempre ensinar aos filhos aquilo que acredita ser o correto, mesmo que isso vá de encontro com as convenções. E ele não é o único personagem cativante e marcante desse livro, pois todos o são na verdade. Não existe um único personagem que não vá ter marcar, seja para o bem, seja para o mal. Sem dúvidas, ao acabar de ler essa obra, você levará essa estória para sempre contigo.

Eu não tenho dúvidas em dizer que esse livro conquistou o lugar dele entre os meus favoritos com muito mérito. Uma obra que já atravessou várias gerações e continuará o seu caminho ao longo de muitos e muitos anos. Leitura obrigatória para qualquer amante de literatura.

Classificação

Sobre a autora

Harper Lee foi uma escritora estadunidense, filha de uma dona de casa e de um advogado. Seu primeiro livro, O Sol é Para todos (em inglês: To Kill A Mockingbird) publicado em 1960, foi um sucesso instantâneo, se tornando um dos maiores clássicos da literatura norte-americana moderna. A obra ganhou o prêmio Pulitzer e deu origem a um filme homônimo, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962.

O romance é baseado livremente nas memórias familiares da autora, assim como em um evento ocorrido próximo a sua cidade natal em 1936, quando ela tinha 10 anos de idade. A obra foi eleita pelo Librarian Journal como o melhor romance do século XX e está na lista de 100 melhores livros feita pela BBC.