Resenha: A Menina Submersa - de Caitlín R. Kiernan

A Menina Submersa - Memórias

Caitlín R. Kiernan

Editora DarkSide

Sinopse: 'A Menina Submersa - Memórias' é um verdadeiro conto de fadas, uma história de fantasmas habitada por sereias e licantropos. Mas antes de tudo uma grande história de amor construída como um quebra-cabeça pós-moderno, uma viagem através do labirinto de uma crescente doença mental. Um romance repleto de camadas, mitos e mistério, beleza e horror, em um fluxo de arquétipos que desafiam a primazia do 'real' sobre o 'verdadeiro' e resultam em uma das mais poderosas fantasias dark dos últimos anos. Considerado uma 'obra-prima do terror' da nova geração, o romance é repleto de elementos de realismo mágico e foi indicado a mais de cinco prêmios de literatura fantástica, e vencedor do importante Bram Stoker Awards 2013. A autora se aproxima de grandes nomes como Edgar Allan Poe e HP Lovecraft, que enxergaram o terror em um universo simples e trivial - na rua ao lado ou nas plácidas águas escuras do rio que passa perto de casa -, e sabem que o medo real nos habita. O romance evoca também as obras de Lewis Carrol, Emily Dickinson e a Ofélia, de Hamlet, clássica peça de Shakespeare, além de referências diretas a artistas mulheres que deram um fim trágico à sua existência, como a escritora Virginia Woolf.

Resenha

Eu comecei a ler A Menina Submersa cheia de expectativas. Foi uma das leituras que escolhi para a minha maratona de de halloween e admito que acabei de decepcionando um pouco. E já vou explicar o porque.

Nesse livro nós conhecemos a personagem India, também conhecida como Imp. Ela é louca, como ela mesmo admite. E é justamente ela quem vai contar uma estória para nós, uma estória, segundo ela, de fantasmas. Uma estória sobre uma mulher chamada Eva, que ele conheceu em uma madrugada de julho na beira de uma estrada. Ou seria sobre uma mulher Eva, que ela conheceu em novembro? Ela não sabe e você também não sabe. Seria essa a estória sobre uma sereia ou uma estória sobre uma loba?

Ninguém nunca dissera que você tinha de estar morto e enterrado para ser um fantasma.

Como ela e eu já dissemos, Imp é louca. Ela não confia muito em suas lembranças, pois essas lhe dizem que ela conheceu Eva duas vezes pela primeira vez. Mas seria possível conhecer a mesma pessoa duas vezes pela primeira vez? Imp já está acostumada com sua loucura, que ela considera uma maldição de família, passada de sua avó para a sua mãe e de sua mãe para ela. Ela toma os remédios necessários, consulta uma psiquiatra. Ela ama pintar e as vezes escreve contos também. Então para tentar entender suas próprias memórias, ela resolve colocar no papel tudo o que aconteceu com ela, Eva e Abalyn (sua namorada). Dessa forma ela espera entender e exorcizar seus fantasmas, mesmo tendo receio que apenas esteja contaminando outras pessoas com eles.

A minha história de fantasmas está cheia de momentos importantes dos quais eu apenas tomaria conhecimento se fossem momentos importantes ao olhar para trás.

E a narrativa que temos no livro é narrativa de Imp. E como ela, além de não ter certeza sobre o que está escrevendo, está datilografando a sua história com relutância, por muitas vezes a narrativa acaba sendo o mais longe do objetiva quanto for possível. Ela luta consigo mesmo para escrever os fatos que ocorreram e por muitas vezes foge do assunto central se refugiando em narrativas paralelas. E esse aspecto acaba fazendo o livro ser cansativo. Eu entendo que é uma excelente forma de demonstrar a mente confusa de Imp e todos os seus conflitos, mas isso acaba fazendo com a estória se arraste.

"Nada é sempre objetivo", Imp datilografou, "embora a gente perca grande parte da verdade fingindo que é."

Por vezes ela inclui contos dentro de suas narrativas, e os personagens desses contos contam outras estórias. São estórias dentro de estórias dentro de estórias. Voltas dentro de voltas dentro de voltas. Talvez o motivo pelo qual me decepcionei com o livro tenha sido porque pensei que fosse outro tipo de leitura, como podem perceber por eu ter escolhido ele para a maratona de halloween. Eu espera um livro de terror, mas não foi simplesmente um livro com estórias de criaturas sobrenaturais que eu encontrei. Nesse livro tais criaturas sobrenaturais parecem ser fruto da loucura da Imp, mais de qualquer outra coisa. Mas não vou entrar em muitos detalhes, você precisará ler para descobrir o que é real e o que não é.

Nunca gostei de casas quietas. Elas sempre parecem estar esperando alguma coisa.

Enfim, o livro está mais para a categoria psicológico do que terror. Isso não torna o livro nem pior nem melhor, apenas diferente do que eu esperava. Mas ainda que tenha me decepcionado por ele não ser exatamente o que eu buscava, só isso não justificaria a nota que resolvi dar para ele, 3 estrelas. Eu tirei duas estrelas por dois motivos, amos extremamente pessoais. Primeiro porque o livro quase não tem diálogos, ele é constituído basicamente pela narração da Imp nós dizendo o que aconteceu. E segundo pela falta de objetividade da estória, o que nesse momento não me agradou. Porém esse segundo ponto acabará me fazendo reler esse livro algum dia. Algo me diz que se eu o ler em outro momento da minha vida, eu poderia gostar mais dele.

Eu li a edição em brochura, mas um dia vou querer adquirir a edição em capa dura, que é simplesmente divina. Mas essa edição não está ruim de forma alguma, quem não quiser comprar a edição mais cara, por vezes essa edição brochura é encontrada por 9,90 na internet.

E algo também me diz que esse livro daria um filme magistral. A narrativa que me cansou seria justamente o que nos faria nem piscar durante o filme. Principalmente por causa do desfecho do livro. Então se realmente fizerem um filme desse livro eu irei relê-lo antes do filme sair, para poder reavaliar a minha opinião sobre ele. Mas apesar de tudo e qualquer coisa, eu recomendo esse livro sem sombras de dúvida.

Sobre a autora

Caitlín R. Kiernan (1964) é autora de livros de ficção científica e fantasia dark, e paleontóloga. Escreveu dez romances, dezenas de histórias em quadrinhos e mais de 200 contos e novelas. Entre seus trabalhos, destacam-se os romances Silk (1998), Threshold (2001), ambos vencedores do International Horror Guild Award, e The Red Tree (2009); a série em quadrinhos The Dreaming, spin-off de Sandman, de Neil Gaiman, com quem também escreveu a novelização de Beowulf (2007). A Menina Submersa: Memórias conquistou os Prêmios Bram Stoker e James Tiptree, Jr., este dedicado a obras de ficção científica ou de fantasia que expandem e exploram a compreensão de gênero.